Parlamentar do DF se recusa a fazer teste do bafômetro e anuncia reinício de tratamento contra depressão
Episódio reacende debate sobre saúde mental, responsabilidade pública e linchamento virtual
O deputado distrital Daniel Donizet (PL) anunciou neste sábado (28) a retomada de seu tratamento de saúde mental, com foco no enfrentamento da depressão.
O anúncio ocorre dois dias após o parlamentar se envolver em um episódio polêmico: durante uma abordagem policial na DF-075, próximo ao viaduto do Riacho Fundo I, ele se recusou a realizar o teste do bafômetro e foi autuado pela infração.
De acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal, a abordagem aconteceu na noite de quinta-feira (26), e não houve indícios de substâncias ilícitas. Um familiar habilitado realizou o teste em seguida, apresentando resultado negativo, e retirou o veículo do local.
Ainda assim, a atitude do deputado gerou críticas nas redes sociais e repercussão política. O governador Ibaneis Rocha solicitou uma reunião com o MDB — partido ao qual Donizet é filiado — para discutir os próximos passos quanto à sua permanência na sigla.
Além da manchete: a dor que não se vê
O episódio acendeu um novo sinal de alerta: até que ponto figuras públicas podem suportar a pressão sem colapsar emocionalmente? Daniel Donizet é um político conhecido por sua atuação em defesa da causa animal, mas que também já tornou pública sua luta contra a depressão — uma doença que não escolhe classe, cargo ou posição.
“Estou em um momento frágil, e a pressão tem sido muito intensa. Decidi, por mim, pela minha família e pelo meu compromisso com a vida pública, retomar meu acompanhamento psicológico”, afirmou o deputado em nota oficial.
Responsabilidade não exclui empatia
É legítimo exigir responsabilidade de um agente público. A recusa ao teste do bafômetro é uma infração prevista em lei, e deve ser tratada com a devida seriedade. Porém, o debate não deve parar na superfície. Há uma linha tênue entre cobrar e esmagar.
Nos últimos anos, o crescimento do linchamento virtual tem transformado crises pessoais em espetáculos públicos. A velocidade da internet, somada ao impulso punitivo nas redes sociais, costuma ignorar um fato básico: todo ser humano tem limites.
O sofrimento psíquico — especialmente quando silencioso — se agrava quando vira alvo de julgamento instantâneo e cruel. Muitas vezes, o que parece uma atitude de arrogância ou descaso pode, na verdade, ser sintoma de uma mente exausta, ansiosa ou em colapso.
A saúde mental como pauta política
O caso de Donizet convida a uma reflexão mais ampla: como o poder público está cuidando da saúde mental de seus próprios membros e da população em geral? O adoecimento psíquico é crescente em todo o país e entre parlamentares, cuja rotina envolve exposição, pressão e desgaste, não é diferente.
Há espaço para o erro, sim — desde que haja disposição para aprender e mudar. Donizet, ao assumir publicamente sua fragilidade, abre uma oportunidade rara de se falar sobre um tema ainda cercado de tabu: a dor emocional de quem representa a sociedade.
Antes de julgar, escute
Enquanto os holofotes se voltam para o caso, uma pergunta persiste: é possível responsabilizar sem desumanizar? A resposta passa pela empatia — não como justificativa para erros, mas como ponto de partida para diálogos mais construtivos.
A dor que não é acolhida, vira abismo. E muitas vezes, o julgamento público é o empurrão que falta.