Letícia Joana, do CEM 02, faz parte do grupo de 102 selecionados do programa de Pontes para o Mundo
Por Ícaro Henrique, Ascom/SEEDF
Selecionada pelo programa Pontes para o Mundo, Letícia Joana vive o sonho de aperfeiçoar o inglês com nativos ingleses | Foto: Reprodução, Ascom/SEEDF.
Um sonho que saiu do papel. Aos 17 anos, Letícia Joana Alves, aluna do Centro de Ensino Médio (CEM) 02 de Ceilândia, viu a primeira viagem internacional acontecer antes mesmo de concluir o ensino médio. Ela foi uma das selecionadas do Pontes para o Mundo, programa da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF) que oferece intercâmbio gratuito a estudantes da rede pública.
Na véspera do embarque, em 2 de setembro, Letícia mal conseguia dormir. Observava o movimento da rua em frente à casa onde mora, tentando assimilar o que estava prestes a viver. No dia seguinte, deixaria o país para vivenciar uma experiência de três meses no Reino Unido, destino que parecia distante para quem tinha o sonho, mas não os recursos financeiros.
“Tudo aconteceu muito rápido. Eu estava sentada na calçada de casa, pensando no meu futuro, e no dia seguinte, embarcando para fora do país”, lembra a estudante. “Aqui no Reino Unido, os alunos têm muita autonomia. Eles tomam decisões, resolvem tudo sozinhos. No Brasil, a gente ainda não tem isso tão forte, mas o potencial é o mesmo.”
A comparação entre os dois mundos fez Letícia perceber o tamanho do talento que existe nas escolas públicas brasileiras, e como a desigualdade limita sonhos. “Eu tive amigos com muito potencial, mas que precisaram deixar a escola para trabalhar. Se a gente tivesse a estrutura que tem aqui, de lá sairiam gênios, eu não tenho dúvida. O que me deixa mais feliz é saber que estão investindo na educação pública, e estar aqui, vivendo essa experiência, é a prova viva disso”, declarou.

A família da estudante: o pai Jaílson Alves, as irmãs Lívia Michelle e Laura Miriam, a mãe Marci Lendi e Letícia | Foto: Arquivo pessoal.
Inspiração de família
O olhar maduro de Letícia vem de quem carrega uma história marcada por esforço e inspiração familiar. “Minha irmã faz Nutrição na UnB. Ela entrou pelo PAS, e foi com ela que aprendi o valor do estudo. Meus pais sempre disseram que é a única forma de mudar nossa realidade”, conta.
A mãe, a promotora de vendas Marci Lendi, enfrentou dores e dificuldades sem deixar de ser exemplo. “Teve uma vez que ela machucou o braço e, mesmo com atestado, a empresa não a deixou faltar. Ela trabalhou sentindo dor. E me disse: ‘Pra ter uma vida diferente, você tem que estudar’. Isso ficou na minha cabeça.”
Marci Lendi fala com emoção sobre a trajetória da filha e o orgulho que sente por suas conquistas. “A Letícia sempre foi uma criança muito falante, esperta e curiosa. Desde pequena, sempre se destacou nos estudos, sempre foi muito aplicada. Nossa família é composta por cinco pessoas: eu, meu esposo Jaílson Alves, que é pintor de automóvel, e três filhas. E nós cinco somos muito unidos. Em tudo o que acontece na nossa família, a gente está junto, um dando força para o outro.”
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Com a filha vivendo um novo capítulo longe de casa, Marci conta que o sentimento é de saudade, mas também de alegria e orgulho. “A gente conversa todos os dias. Está sendo difícil, porque nunca tínhamos nos separado, mas tentamos focar que é uma coisa muito boa para ela, um futuro brilhante. É o que ela sempre quis, e a gente sempre deu força. Claro que tem dia que a saudade bate, mas estamos felizes por ela ter conseguido chegar onde chegou.”
A estudante falou também sobre as lembranças da Ceilândia e as descobertas no Reino Unido. “Tudo que estou vivendo aqui está me mostrando que a vida pode ser melhor, mas também me dá mais vontade de ajudar a mudar a minha realidade, a realidade da minha família e até da minha cidade”, conta Letícia. “Eu amo a minha cultura. O jeito do brasileiro é único, a empatia, o calor humano, a força.”