
Master of Engineering, McGill University,
Pós-graduado em Comércio Exterior, Universidade Mackenzie,
Consultor em Relações Institucionais.
A recente divulgação da pesquisa Amangolin & ABC Dados acrescenta novos contornos ao já movimentado tabuleiro político do Distrito Federal. A fotografia revelada pelo levantamento, embora ainda distante do pleito, tem densidade suficiente para orientar estratégias, ajustar discursos e, sobretudo, mostrar que a disputa para o Palácio do Buriti promete ser uma das mais competitivas dos últimos ciclos.
O dado mais emblemático é a dupla liderança de Celina Leão (PP) e José Roberto Arruda (sem partido, mas provável PSD). A vice-governadora, com 26%, demonstra capacidade de manter visibilidade e competitividade mesmo após quase quatro anos de governo, o que não é trivial em administrações desgastadas pelo tempo. Sua posição reflete, de um lado, o saldo positivo da avaliação do atual governo e, de outro, a sua presença ativa na articulação política do DF. Já Arruda, com 21%, surge como um fator sísmico: sua simples entrada no radar eleitoral reordena prioridades, reposiciona alianças e mobiliza memórias afetivas de uma expressiva parcela da população. Ele continua sendo um candidato com recall robusto e, sobretudo, com eleitorado fiel.
Mas o pano de fundo da pesquisa é ainda mais revelador. O brasiliense continua gostando de morar no DF, 79% satisfeitos ou muito satisfeitos, e demonstra uma aprovação sólida do governador Ibaneis Rocha (MDB), com 63%. O paradoxo, porém, emerge justamente quando essa boa avaliação não se traduz em competitividade para sua tentativa ao Senado. O governador aparece apenas em quarto lugar, atrás de Michelle Bolsonaro e Bia Kicis, ambas do PL, e também atrás de Érika Kokay, do PT. Aqui, o contraste salta aos olhos: ter boa imagem como Governador não tem se convertido automaticamente em força eleitoral majoritária.
A explicação mais plausível está na recente crise do Banco Master. É um desgaste seletivo: a administração segue aprovada, mas a figura do governador encontra adicional resistência ao buscar outra esfera de poder.
O campo bolsonarista, por sua vez, mostra musculatura: lidera a disputa para o Senado e pode influenciar decisivamente a eleição para o GDF, seja com apoio explícito, seja com estratégica neutralidade. O DF é uma das unidades federativas onde o alinhamento com Bolsonaro mais pesa, e isso mantém tanto Celina quanto Arruda atentos ao posicionamento do ex-presidente.
O cenário, portanto, é de indefinição qualificada. Há líderes, da mesma forma que há incertezas. Faltam 11 meses para a eleição, tempo suficiente para significativas guinadas, surpreendentes alianças ou desgastes acumulados. Ainda assim, a pesquisa registra um eixo de tendência: Celina Leão e Arruda despontam como protagonistas naturais da disputa, enquanto Ibaneis enfrenta difícil travessia rumo ao Senado.
Para que haja uma mudança real nesse desenho, será necessário um fato político de grande impacto. Até lá, o que temos é uma fotografia nítida de um cenário em lenta sedimentação, mas ainda sujeito a turbulências de grande porte, especialmente num DF onde a política costuma ser intensa, nem tanto imprevisível e profundamente influenciada por acontecimentos nacionais.

